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Pietá Pop-art. (Ilustração: Pietá, de Michelangelo + edição online) |
Sofre pensando na pobre jornada de um pássaro que não pode voar. Não por não saber bater as asas, mas por estar vivendo, enganosamente, junto a um bando de frangos transgênicos, banhados de hormônio. O pobre pássaro que se junta à granja, que finge apego e euforia, que bica grãos de milho, embora sem familiaridade.
Carrega máscaras dentro dum bolso e um pouco de vodka no outro; já se foi a leveza e a certeza da juventude. Tenta se contentar com o torpor e a umidade que o verão carioca traz no automático. Tornou-se, com os anos, mulher pesada de pudores, de um perfume cansado, de toques indesejáveis e de um medo transgressor da alma.
Espremida entre os próprios braços; na vida, caminha assim: na presença de Adelaide, essa madre, é uma santa; na de Larissa, essa colega, a piranhagem; com Letícia, essa amiga, a frigidez; carinhosa de longa amizade com Lucas; carinhosa de trepada vontade com Arthur; à Valéria, essa vizinha, lhe cabe os dentes amarelos; ao marido, esse franguinho, seu sorriso e só; aos filhos, que nunca teve, o desejo; para o pai, orações de morte ao pó; finalmente à sua mãe, que tanto teme, é Pietá, de Michelangelo.
E no fim do dia, quando sai do canto para preencher a sala vazia, deita-se no sofá e reconhece-se na pobre mulher, Maria, que carrega nos braços, no lugar de Jesus, a sua verdade já desfalecida.
As partículas d'água unem-se numa microscópica gota salgada, que transborda, deixando o olho esquerdo raso novamente, atravessa as bochechas e mergulha na boca rosada entreaberta, que transmite o soar da conformação: a-mém.
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Que influência Warhol é essa?
ResponderExcluirQuis misturar religião e pop-art. Tentei até fazer sozinho, com photoshop, mas não deu tão certo quanto com esse editor online.
ResponderExcluirE Warhol é admirável. =D