Ana estava cansada de esperar por Eduardo. Durante toda uma semana, as palavras que seriam ditas nessa noite não paravam de ser pronunciadas na calada da sua mente. Ela estava decidida e não iria de maneira nenhuma voltar atrás.
Ela acordava todas as manhas pensando em dizer isso para Eduardo, mas ela era tão perfeccionista que não poderia desperdiçar tais palavras em uma paisagem que não condizia com seu sentimento. Ela é daquelas pessoas que são tão pacientes que engolem o próprio desejo de gritar, contestar, responder, visando o alcance dos seus sonhos futuros perfeitos.
Finalmente esse dia havia chegado. Ela estava no ponto de ônibus em frente a uma pequena lanchonete de esquina que vendia crepes suíços. Já era aproximadamente 23 horas de uma sexta-feira. Eduardo trabalhava e chegava tarde, principalmente as sextas, onde o trânsito nunca é fluido. Ana mais uma vez repensava cada palavra, cada possibilidade de resposta por parte dele.
A poucos minutos dali, Eduardo estava no ônibus indo em direção a Ana. Diferente dela, ele não perdia tempo para falar, agir ou estragar tudo. Ele era uma pessoa de ação inconseqüente, como dizia sua mãe. Eduardo não tinha duvidas no que falar e, sem pensar ("pra que esperar?"), ligou do seu celular para Isabela.
Isabela estava cochilando em sua cama, tinha a mania de dormir cedo e acordar tarde. Mas nessa noite, tentava rigorosamente dormir e esquecer todos os acontecimentos passados. Sonhava enevoadamente com o rosto de Eduardo lhe dizendo algumas palavras que ela não queria ouvir. Quando ouviu o celular tocar, pegou-o e atendeu-o. Era Ana, sua amiga.
- Não atenda o Eduardo, Isabela. Não atenda a ligação dele - falou e desligou em seguida.
Três segundos depois o celular de Isabela tocou novamente, era Eduardo dessa vez. Ela o atendeu.
-Isabela, eu te amo! - gritou ele dentro do ônibus - Eu te amo, meu amor! Me desculpa ter feito isso com você. Eu não pensei, eu me arrependo. Eu queria poder pensar e raciocinar, mas eu sou tão impulsivo que me perco em minhas próprias ações. Me perdoa, meu amor...
- Eu não sei, Eduardo. Eu tenho certeza que você não me perdoaria se eu fizesse isso com você. Eu posso perdoar tudo, mas eu não vou passar por cima de um principio que me torna o que eu sou.
- Mas eu sei que você me ama, e eu te amo! Me perdoa, amor. Eu faço tudo por você. Você não pode fazer isso comigo. Eu não sou nada sem você.
- Passa aqui em casa amanhã para conversarmos. - falou, Isabela, com um receio na voz.
- Eu te peço, amor. Eu preciso do teu perdão, eu preciso do seu amor, eu preciso de você. - respondeu Eduardo, e ambos desligaram.
Finalmente o ônibus passa pelo ponto onde encontra-se Ana, amiga de Isabela. No entanto, o motorista não para. Ninguém iria descer ali. Ela e Eduardo se reparam durante os segundos em que o ônibus percorre os metros daquela marquise que sombreava o corpo de Ana. Ele percebe o misto de surpresa e tristeza em seu rosto ao ver que o onibus não pararia como esperava, e ela percebe a esperança no dele, ainda que percebesse lágrimas ressecadas.
Então ela viu o grande veículo sumindo na paisagem urbana. Não pensou na possibilidade dele simplesmente não saltar do ônibus. Sentou no banco do ponto e as sombras da noite encobriram seu rosto.
Mais uma vez, Ana pensa no que ia falar para Eduardo:
Eu sei que eu apareci na sua vida como um ônibus desenfreado, louco para te ter como passageiro e depois te deixar em um ponto qualquer, como esse aqui, mas eu me apaixonei por você. Eu também sei que você ainda é apaixonado por ela. Mas eu não me importo em te dividir. Eu te amo mais que tudo. Não precisa decidir agora. Agora que você está aqui, eu não tenho pressa de nada. Vamos comer alguma coisa e conversar. Eu só quero estar com você. Eu só quero poder te amar.
Ana que esperou toda a semana para lhe dizer isso, perdeu diversas oportunidades de conquistar Augusto. E tudo foi em vão. Eduardo que não exitou em declarar o quanto amava Isabela, ainda que estivesse errado, provou a si mesmo, e a sua mãe inconscientemente, que ser dessa maneira explosiva e impulsiva pode trazer alguns bons frutos. Valeu a pena tentar. Caberá à Isabela pensar em perdoar ou não Eduardo.
Não importa que a vida se transforme num labirinto de possibilidades. Se você não tentar, se você não escolher rapidamente um caminho, o labirinto pode, num piscar de olhos, virar um corredor. O corredor do arrependimento.
Pensante.