quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Desejo de sereia.


Agora que você me despertou, vai ter que me fazer dormir.
Pulei de um sonho para a realidade, então vai ter que me fazer sonhar.
Saí da música psicodélica só porque você desejou, agora vai ter que me fazer cantar.
Me fez esfriar meu corpo sonolento, agora vai ter que me esquentar.

Não se faça de fingida, você é igual a mim. Esperta.
Carente quando te é conveniente. Conivente quando o clima é envolvente.
Não tenha medo de mergulhar no mar que você tormentou.

Anyway, eu sou a onda que vai te afogar.

Sou o pescante que te jogou ao mar e que vai te içar.
Sou o burguês do pesque-pague que domina a lagoa.
Sou a rede que vai te salvar do cardume de peixes do desnorteio.

A maré é forte e o gingado é grosseiro.
Uma tsunami, e você já está de volta, na margem, na praia.
Não ouse me acordar de novo, sereia abusada e satisfeita.

Extasiados, a sereia e o anzol, que tal boiarmos juntos e só flutuar nas ondas do aconchego noturno?



O Pensante.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"Atchim!, é o amor." (3)

Primeira bloghistória dividida em, no máximo, três capítulos do Blog "Do Pensante". 

CAP. 3 Era quase fim de ano. Dezembro. Sábado. Noite quente e abafada, parecia que ia chover. Os dois, o homem que espirrava quando sentia felicidade e a menina que cheirava exatamente como felicidade para o homem ao lado, estavam sentados juntos no sofá, com o ventilador girando e ventilando seus corpos. Eles tentavam escolher o que ver na tevê. Eram tantas opções e nenhum deles queria palpitar sobre alguma coisa, tinham medo de escolher programas que o outro não gostava. Eles não tinham gostos exatamente parecidos. Ela sempre gostava de séries policiais e documentários sobre História da humanidade. Ele gostava mais de desenho animado mesmo. Mas, ainda assim, a convivência era pacífica.

Era engraçado observar como o homem continuava a espirrar continuamente na presença da moça, sem nem pensar em tampar o nariz, depois de um ano. A seqüência de sete espirros não existia mais. Existia simplesmente espirros sucessivos. Era estranho perceber que a moça tinha realmente se acostumado aos espasmos nasais constantes, também. É que quando nós entendemos e aceitamos as pessoas, nós passamos a nos adaptar a certas situações.

Bem, já era tarde e o clima estava começando a esfriar. Não estava mais abafado. O vento batia relativamente forte na janela do apartamento do homem e, agora, o casal estava enroscado um no outro. As peles pareciam acesas, transmitindo ondas de calor em simultâneo com os olhares repletos de bons sentimentos. As cascas que cobriam o pecado começavam a cair lentamente, pouco a pouco, sobre o chão que lembrava o mar de Arraial do Cabo. Era límpido e refletia as duas almas que estavam transcendendo. A cadência involuntária, a ligação com o divino do outro, com a parte secreta que no outro existe e que nos é estranha, mas que sonhamos em descobrir naqueles que amamos com ardor. Toda a névoa de indecisão sumia e o céu fiou azul marinho. Sem estrelas, mas ainda assim magnífico. Do quente ao frio, a noite abafada virou noite chuvosa de amor sem fim.

Assim, amanheceu o dia de domingo, sem sol aparente e com nuvens carregadas para as chuvas do meio do dia. "Eu te amo, 'Atchim'.", ela falou. ATCHIM ! " Eu te amo também, kiwi.", ele respondeu. Eles acordaram e foram preparar o café da manhã. Era simples, pão e café com leite para ela, e pão e chocolate quente para ele. Porém não tinha pão fresco. Pergunta: quem iria comprar pão? Preguiça era a característica que ambos partilhavam. Depois de tirarem 3 vezes par ou ímpar, ele ganhou. Lá foi ela então comprar pãezinhos fofos e quentes na padaria que ficava na quadra ao lado. Era a ultima vez que eles se veriam.

Não me pergunte o que aconteceu. Eu, particularmente, fico surpreso ao saber que a moça sumiu indo comprar pão. Mas é a verdade. Ela estranhamente demorava a voltar com o saco de cor parda repleto com pães dourados e crocantes, e ele foi verificar o porquê. Não existe motivos, pelo menos ele não os achou. Ligou para todos os números de telefone possíveis, foi às casas da familia, amigos, conhecidos, mas nenhum sinal da felicidade.  Ele tinha medo e pânico de não saber onde ela estava. Ele a procurou por dias e semanas. E a cada 'não' que recebia, a cada sombra que não achava, seu mundo ia perdendo o brilho. A cada noite sem sua voz dizendo "Boa noite.", a cada dia sem o sorriso que tanto gostava, sua vida ia perdendo o sentido. E, principalmente, cada dia sem aquele cheiro, o fazia morrer.

O homem que espirrava quando sentia cheiros gostosos que a vida podia nos dar, continuou a viver. Mas a partir daquele domingo, sua vida mudou, seu jeito de ser mudou, o mundo, para ele,  mudou. Foi a partir daquele dia, em que o melhor cheiro de sua vida se esvaiu no meio do odor de mundo, no dia em que Ela evaporou sem dizer para onde ia, foi nesse domingo chuvoso de dezembro em que o homem se curou de sua síndrome.

Não havia explicações científicas para a cura de sua doença, a única hipótese que o próprio homem conseguiu pensar foi que nada no mundo poderia cheirar melhor do que Ela. Nada no mundo poderia ser melhor do que ela. Não existiam odores que ele considerava tão bons quanto era o dela. E como ela se foi, assim se foi tudo que ele reconhecia como bom. O que existia no mundo agora era o resto, e o resto nunca é satisfatório.

Assim, o homem seguiu em sua caminhada inodora pela vida afora. Mas esperem...
"ATCHIIIIM!", ele espirra. Era só um espirro comum ou era algum resquício molhado da Paz? Confesso que nem eu sei.


FIM.
.O Pensante.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

"Atchim!, é o amor." (2)

Primeira bloghistória dividida em, no máximo, três capítulos do Blog "Do Pensante". 

CAP. 2
 Era algum tipo de sadismo? Correr atrás do próprio mal-estar? O homem, ainda assim, não se conteve e correu como nunca havia corrido antes. Já estava, pela suas contas, na quarta série de espirros, lá pelo vigésimo quarto. O cheiro não saía do nariz e nem a mulher da cabeça. Ele não lembrava de tantos espirros sucessivos antes, mas isso não importava mais. Logo a frente, a mulher que cheirava a paz esperava o sinal fechar para atravessar. Fechou. Uma multidão cinza escuro atravessou a avenida rapidamente. O homem estava no meio da avenida, chegando perto do alvoroço, que era seu objetivo, e BAAM !. O sinal abriu para os carros e ele perdeu a consciência rapidamente.

"Que cheiro, meu Deus, que cheiro..", delirava ele. Ele estava deitado na beira da avenida com umas 5 pessoas ao seu redor e um cachorro vira-lata ao seus pés. Foi erguido por dois homens, e após ser questionado se estava bem e ter dito que sim, foi deixado ali, quase só. "Tudo é pressa. Tudo é tempo aqui.", ele pensou. Pelo menos teve a sorte de não morrer. Ele não podia morrer sem conhecê-la. E ela estava a sua frente agora. Ele não estava espirrando e nem se perguntava o porquê. Ele agradecia, na verdade. Ele a perguntou seu nome e ela o respondeu, assustada e preocupada com o sangue. "Que sangue?", o homem a perguntou surpreso. Ela o respondeu que seu nariz estava coberto de sangue e um pouco de asfalto solto, "...que as pistas sempre guardam para esfolar as pernas dos pedestres", ela complementou num tom de revolta. Ele riu.

Não foi o melhor jeito de se conhecerem mas, pelo menos, foi o melhor jeito de ganharem intimidade. Nada como um começo sangrento para aproximar duas pessoas. As pessoas são assim mesmo, loucas por relações que envolvam perigos e situações extremas. Somos seres que gostamos de sofrer um pouquinho, provavelmente porque a felicidade que vem depois do sofrimento se intensifica de alguma maneira. Após esse incidente o homem-espirro e a mulher de cheiro pacífico começaram a se encontrar. Era muito dificil para ambos. Para ele porque, teimoso como era, não queria tampar o nariz e parar de sentir o cheiro maravilhoso que ela exalava. E ela, porque se sentia um pouquinho culpada de ver (e sentir, as vezes) esse homem morrendo pelo nariz. O resultado no final da noite era sempre um nariz sangrando ( tente espirrar quase 50 vezes por noite! ) e dois sorrisos constrangidos nos lábios.

O homem explicou detalhadamente sua vida para a moça, e ela, durante toda a falação, o olhava, perplexa. Eles riam com alguns momentos. Inclusive, teve um especialmente engraçado quando ela contou que já tinha espirrado no meio de uma audiência num Fórum regional perto da casa dela. "Quase morri, porque foi exatamente na hora em que o juiz ia declarar a culpa do coitado.", ela falava. "Coitado? Ele não era culpado? Ele foi erroneamente acusado?! Se for isso, realmente, ... coitado.", o homem a questionou. Em suma, a situação era essa: o 'coitado' era acusado de improbidade administrativa, a mulher que cheirava a sorriso era a advogada de defesa do seu 'adversário'. Ele virou um coitado (somente na visão da moça cheirosa) porque fora o alvo de seu espirro. "Coitado... ele já ia ser acusado e, pra piorar a situação, ainda espirrei na cara dele", falou a mulher, terminando com a história que, por acaso, ficou conhecida dentro desse Fórum como " A História do Culpado Escarrado".

Bem, depois de alguns encontros e, pode acreditar, MUITOS espirros, eles começaram a ter um relacionamento mais sério. Muitas ocasiões de desconforto e muitas ocasiões hilárias aconteceram, dessas que acontecem na vida de qualquer casal, sabe? Não importa se são banais.Além de tudo, elas são reais. E isso faz um relacionamento virar, também, real. Os acontecimentos dão forma à vida das pessoas e dão formas às pessoas. E esse casal estava virando um bonito casal. Ela havia se acostumado com o problema dele e não ficava mais desconfortável. E ele continuava amando sentir o cheiro dela. Principalmente pela manhã, quando, nos finais de semana, ela dormia na casa dele e eles se amavam de manhãzinha, sentindo cheiro de sol nascente. Sempre ao som de espirros, que virou a trilha sonora do casal.

Já fazia quase um ano que eles estavam juntos. Tudo corria bem. Até um marcante acontecimento em suas vidas.

Continua... ( no último capitulo!)

Pensa-ah-ah- ATCHIM!-nte.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

"Atchim!, é o amor." (1)

Primeira bloghistória dividida em, no máximo, três capítulos do Blog "Do Pensante". 
CAP. 1
O homem tinha a síndrome dos sete espirros. Era um tipo de doença desconhecida e não-maligna ao corpo, porém, em certas ocasiões, era extremamente perturbadora. Tudo começava assim: todas as vezes que ele sentia um cheiro que o agradava muitíssimo, como cheiro de kiwi, por exemplo - ele adorava o cheiro cítrico de cor verde do kiwi - ele começava a espirrar. Atchim !, Atchim !, Atchim !, Atchim !, Atchim !, Atchim !, ATCHIM!. Pronto... Sete vezes. Respirava e se afastava o máximo que podia do kiwi e do seu cheiro de natureza.

Ele conseguia viver tranqüilamente. Afinal, no mundo de hoje, dificilmente conseguimos sentir odores que nos agradam tanto assim. Tudo, aparentemente e olfatoriamente, está mais inodoro que o normal. As cores e os cheiros parecem estar em estado de sépia. Amarelados e monocromáticos. No entanto, de vez em quando vivemos situações de prazer físico, seja pela boa comida, odores de bons perfumes, ou até o prazer carnal, eventualmente intensos e duradouros. O homem, infelizmente ou felizmente, devido ao seu problema nasal, não vivia essas situações com tanta freqüência.

Freqüência é a grandeza física que visa medir a quantidade de eventos em um determinado intervalo de tempo. E no intervalo de um determinado ano, o homem alterou a freqüência de seus sete espirros sucessivos.  

Era janeiro e o homem foi ao centro da cidade no começo da tarde. Era quase uma hora e o sol parecia estar  ao lado dos transeuntes. No meio de todos eles, queimando-os, assando-os, fritando-os. A paisagem estava ondulada de tanto calor. Apolo* estava castigando a região. Enfim, ainda assim o homem tinha que cumprir seu dever. Ele sentia o odor das esquinas podres, das pessoas suadas, dos homens de terno que fediam a asfalto. Aquela era o tipo de situação na qual a síndrome nunca iria atacar. Tudo era fétido. Menos ela.

 
Ele não reparou quem era. Não viu a silhueta, não percebeu a cor do cabelo nem dos olhos. Não ouviu o som dos passos nem viu a etnia. Só sentiu o melhor cheiro de toda sua vida. Não era cheiro de perfume. Era um cheiro humano, cheiro de epiderme, um odor suado indescritível. Era um cheiro azul bebê. Melhor que cheiro de criança recém-nascida. Virou subitamente para trás para ver que cheiro de paz era aquele. O cheiro se encaixava na casca. Era uma das mulheres mais interessantes que ele já viu. Não era linda nem maravilhosa. Era a imagem do odor. A mulher que transmitia paz pela pele. 

Ela o olhou de modo estranho. E ele a sentiu em seu nariz. "Merda", pensou ele. Atchim !, Atchim !, Atchim !, Atchim !, Atchim !, Atchim ! e ATCHIIIIMMMM! "Merda, merda, merda...". Mais uma vez, espirrou mais sete vezes. Quando recuperou o fôlego no décimo quarto espirro, a mulher já estava a uns 300 metros de distância. Ele correu atrás dela, mesmo com o nariz queimando em partículas que saíam em velocidade constante. " Da próxima vez, ponha a mão no nariz, seu panaca", pensou o homem. E continuou a correr atrás do melhor cheiro que seu nariz já captou.

Continua.... 

*Apolo, Deus do Sol na mitologia greco-romana.


domingo, 5 de setembro de 2010

My love doesn't love me anymore.

Good night, my dear. Sleep well.                                         
Good night, my love. I'll be here by your side...
Did you like the day, my love?
I have to tell you. I don't have to hide.

What's going on? Is there something wrong?
I don't know anymore what is life for me...
But, my love, tell me ecxactly. What are you worrying about?
Life is not happy anymore, you see.

Am I guilty? Did I do something?
You're not guilty, but it doesn't matter. I'm going.
What do you mean, sugar?
I'm mean I can't stand this life. I need to live. I'm going.

What about me? What about us?
This is "Us" last night. I'm sorry.
You don't love me anymore, so...
Is more than love, more than hate. I gotta go.

Then she went away. Went to nowhere.
After I left him, my shoulders are lighter.
I hope she's okay. I hope she come back.
After I left the sun shines brighter.

A month has passed and she didn't appear.
I've been walking all this time, smiling.
My love doesn't love me anymore.
That's the end. That's my beginning. I'm flying.
THE END.

*Desculpas a todos que não falam inglês. É que em português os versos não rimam e eu quis diferenciar um pouco a língua escrita do Blog. 
Pensante.