O cantor francês cantava de maneira extremamente rápida e convincente e o pobre turista tentava entender o que ele cuspia de maneira afinada e ritmada. Pobre turista, não saberá identificar o porquê de todos ao seu redor estarem rindo. Provavelmente deve ser uma musica engraçada. Mas do que adianta agora? Você será levado pela onda contagiosa de risos, e devido a sua fraqueza à primeiras impressões, mesmo de pessoas que você não conhece, você rirá junto, tentando se reconhecer na multidão. Você será cumplice do que acontece na maior parte do tempo na maior parte do mundo. Você foi levado pela onda do popular, do comum.
A música engraçada, ou não, terminava e, de repente, todos pareciam chocados. Os olhos não estavam esbugalhados, mas sim, no mínimo, surpresos. O turista se perguntava o que acontecia já que há um segundo atrás toda a platéia ria com a piada musical, ou alguma situação no palco que por acaso ele não viu?, e agora estavam dessa maneira. A onda e a vulnerabilidade. Ele abriu sistematicamente os olhos e utilizou-se do seu dom de atuação, o qual aprendeu com sua fraqueza, para imitar um rosto de espanto, deixou a maré levar. Ele se molhou mais uma vez. Um dia você pode se afogar.
Aquilo não podia estar acontecendo. A situação se diferenciava, como se tivessem trocado um ambiente por outro. A onda tem várias marés. Os espectadores davam tres voltinhas em volta do corpo e depois davam um pulinho sutil. Um, dois, três e pulinho! E a musica parecia voltar a ativa. Uma musica que não condizia com a estranha coreografia. A onda e a ultima respiração. O turista errou no começo, sempre confundia a terceira voltinha com o pulo sutil. Depois de alguns erros perceptíveis pelas pessoas a sua volta, e por pequenos mas memoráveis olhares repressores, ele alcançou a perfeição do ridiculo passo de dança frances.
O turista não percebeu que depois de um tempo a onda começou a jogá-lo de um lado para o outro, e até a dar pulinhos!, ela o manipulava, e ele, pobre coitado de mente fraca, nem tentou lutar contra o senso comum. O turista foi afogado na onda. Perdia o que tinha dele proprio para dar aquilo que os outros exigiam. Ele cedeu. O que é fraco a maré leva. Ele vai se arrepender o resto da vida por não ter aprendido frances.
O que fazer agora?
C'est la vie.
Pensante.