Enquanto ele calmamente caminhava, sem pressa de chegar aonde deveria chegar seguindo aquela direção, reparava em vários pequenos quadros que se repetiam a cada dois ou três passos largos no corredor, pendurados em ambas as paredes, direita e esquerda.
Quadro da direita. (Yhuri Cruz + photoshop) |
Na parede esquerda, os quadros tinham um tamanho um pouco mais avantajado e o estilo da pintura era muito mais realista, e menos ilusório. Cada traço era preciso e certeiro, como se o pintor tivesse uma fortíssima memória fotográfica, aliada a um talento natural para colocar cada passada de grafite no lugar certo. A cada passo, percebia que todas as pinturas esquerdas refletiam memórias que ele nunca esqueceu. Fatos dolorosos e pesados. Daqueles que a vida tatua em nossa memória com uma tinta permanente, de sangue, suor e lagrimas. As pinturas em preto e branco, desenhavam com nitidez, imagens de cabeças capisbaixas, olhos fechados, sombras funéreas, agonias e torturas.
Quadro da esquerda (Yhuri Cruz + photoshop) |
- Olha só todos esses pequenos quadros coloridos e felizes. Estão tão turvos dentro de mim. Enquanto, os esquerdos, os tristes, estão muito mais nítidos na minha memória.
- Seguindo, nessa linha do tempo, vejo o quanto eu vivi alegrias, e, ao mesmo tempo, me esqueci delas. Por que será que as memórias felizes são muito mais dificieis de guardar?- ele se pergunta, finalmente.
- E só agora eu percebo que as memórias de decepção não são mais necessárias para mim. No final da vida, eu finalmente percebo isso, que para viver melhor é preciso deixar o que faz mal pra lá - ele concluiu.
Então, passo a passo, ele seguiu sua caminhada corredor adentro, indo para onde deveria chegar seguindo aquela direção.
Pensante.