CAP. 2
Era algum tipo de sadismo? Correr atrás do próprio mal-estar? O homem, ainda assim, não se conteve e correu como nunca havia corrido antes. Já estava, pela suas contas, na quarta série de espirros, lá pelo vigésimo quarto. O cheiro não saía do nariz e nem a mulher da cabeça. Ele não lembrava de tantos espirros sucessivos antes, mas isso não importava mais. Logo a frente, a mulher que cheirava a paz esperava o sinal fechar para atravessar. Fechou. Uma multidão cinza escuro atravessou a avenida rapidamente. O homem estava no meio da avenida, chegando perto do alvoroço, que era seu objetivo, e BAAM !. O sinal abriu para os carros e ele perdeu a consciência rapidamente.
"Que cheiro, meu Deus, que cheiro..", delirava ele. Ele estava deitado na beira da avenida com umas 5 pessoas ao seu redor e um cachorro vira-lata ao seus pés. Foi erguido por dois homens, e após ser questionado se estava bem e ter dito que sim, foi deixado ali, quase só. "Tudo é pressa. Tudo é tempo aqui.", ele pensou. Pelo menos teve a sorte de não morrer. Ele não podia morrer sem conhecê-la. E ela estava a sua frente agora. Ele não estava espirrando e nem se perguntava o porquê. Ele agradecia, na verdade. Ele a perguntou seu nome e ela o respondeu, assustada e preocupada com o sangue. "Que sangue?", o homem a perguntou surpreso. Ela o respondeu que seu nariz estava coberto de sangue e um pouco de asfalto solto, "...que as pistas sempre guardam para esfolar as pernas dos pedestres", ela complementou num tom de revolta. Ele riu.
Não foi o melhor jeito de se conhecerem mas, pelo menos, foi o melhor jeito de ganharem intimidade. Nada como um começo sangrento para aproximar duas pessoas. As pessoas são assim mesmo, loucas por relações que envolvam perigos e situações extremas. Somos seres que gostamos de sofrer um pouquinho, provavelmente porque a felicidade que vem depois do sofrimento se intensifica de alguma maneira. Após esse incidente o homem-espirro e a mulher de cheiro pacífico começaram a se encontrar. Era muito dificil para ambos. Para ele porque, teimoso como era, não queria tampar o nariz e parar de sentir o cheiro maravilhoso que ela exalava. E ela, porque se sentia um pouquinho culpada de ver (e sentir, as vezes) esse homem morrendo pelo nariz. O resultado no final da noite era sempre um nariz sangrando ( tente espirrar quase 50 vezes por noite! ) e dois sorrisos constrangidos nos lábios.
O homem explicou detalhadamente sua vida para a moça, e ela, durante toda a falação, o olhava, perplexa. Eles riam com alguns momentos. Inclusive, teve um especialmente engraçado quando ela contou que já tinha espirrado no meio de uma audiência num Fórum regional perto da casa dela. "Quase morri, porque foi exatamente na hora em que o juiz ia declarar a culpa do coitado.", ela falava. "Coitado? Ele não era culpado? Ele foi erroneamente acusado?! Se for isso, realmente, ... coitado.", o homem a questionou. Em suma, a situação era essa: o 'coitado' era acusado de improbidade administrativa, a mulher que cheirava a sorriso era a advogada de defesa do seu 'adversário'. Ele virou um coitado (somente na visão da moça cheirosa) porque fora o alvo de seu espirro. "Coitado... ele já ia ser acusado e, pra piorar a situação, ainda espirrei na cara dele", falou a mulher, terminando com a história que, por acaso, ficou conhecida dentro desse Fórum como " A História do Culpado Escarrado".

Já fazia quase um ano que eles estavam juntos. Tudo corria bem. Até um marcante acontecimento em suas vidas.
Continua... ( no último capitulo!)
Pensa-ah-ah- ATCHIM!-nte.

intrigante , é tudo uq eposso dizer, mal posso esperar pelos proximos capitulos
ResponderExcluir