sábado, 1 de outubro de 2011

Ecstasy.

Ecstasy. (Ilustração: Yhuri Cruz ) Clique e veja no tamanho real. 
Sentados dentro do meu corsa 94 vermelho. A pintura fosca, o painel não reluzia, os bancos revestidos de um tecido já envelhecido, desfiado. Eu e ela, voltando de uma noite do centro do Rio de Janeiro, com as janelas escancaradas e o vento fresco rebatendo nos cílios e sombrancelhas: 90 quilômetros por hora e nenhuma melancolia nos ultrapassava. A Avenida Brasil, um dos grandes corredores do Rio, tomava quase 70% do caminho de volta, reto e liso, as luas da Terra brilhavam como rubis no céu da Lucy. Cantarolávamos músicas que nem ao menos soavam nas rádios, tirando o fato de o carro em si não ter espaço para esse tipo de aparelho: de qualquer modo, não havia silêncio entre nossos corpos. Lá estava ela, de vestido florido, azul marinho e vermelho; seus cabelos longos e castanhos levados pela brisa forte para a parte traseira do carro; eu contemplando sua alma enquanto acelerava. Suas mãos brancas dançavam acima de sua cabeça, frequentemente fazendo batuques no teto do carro e nossos corpos se dobravam até uma nova música florescer de nossas mentes, sem sementes. O balanço das cabeças, os sorrisos desavergonhados, as vozes roucas em um catastrófico uníssono, os óculos wayfarer vibrando sem cessar...  

- Hey! Qual a velocidade da alegria?! - a boca cheia de dentes abria o sorriso branco, enquantos as mãos simulavam ondas do mar no lado de fora do carro. Retrato inesquecível.
- O quão rápido os pássaros podem voar? Abra as asas e sinta a corrente!

Ecstasy correndo junto das hemácias, o oxigênio visível, as esferas inquietas em zigue-zague. Monet é meu anjo da guarda, sempre sentado no banco de trás do corsa. A musa e o mestre! Que noite impressionista!(...)
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