Naquele estica e puxa, sentei-me. Meditava, ensopado na inveja que arrebatava meus olhos, que admiravam a beleza das roupas e da pressa alheia, de ter aonde ir, com o que vestir, e para quem voltar. Meus pés tocavam o solo, subiam e desciam acompanhando as trilhas dos comerciais que davam lugar a outras trilhas nas várias tevês ao redor do saguão da rodoviária. As malas abarrotadas de sonhos inalcançáveis rodavam de lá para cá, puxadas por seus donos. Analogias pobres me vem à mente, como essa: malas como troncos, donos como negros, puxadas como trabalho, sonhos como chicotes.
Um dia Bernardi escreveu que tinha medo de ir para o Rio porque lá todos eram felizes, e, em sua solidão crônica ela não queria fingir um sorriso. Encantei-me com a sinceridade de São Paulo, onde a tristeza é real e a moda e os críticos preenchem o vácuo da felicidade. São Paulo não é tão sólida quanto parece.
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Ótimo como sempre.
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