quinta-feira, 8 de setembro de 2011

São Paulo não é sólida.

O resultado do crepúsculo. O pôr do sol dourado que ilumina as curvas retangulares do horizonte. Nuvens que flutuam na órbita do sol viajante, que ia, para voltar um dia qualquer, provavelmente no amanhã, junto com a garoa. Consegue ouvir os passos ocos das pessoas, repletas de desejos: de ir e vir, de conhecer e de rever? Era a rodoviária de São Paulo que emitia sons dissonantes para o espaço. Os motores e  impulsos entravam em sinfonia. E essa disritmia preenchia o que eu era naquele lugar, ser vazio de mim, solidão ambulante em solo paulistano.

Naquele estica e puxa, sentei-me. Meditava, ensopado na inveja que arrebatava meus olhos, que admiravam a beleza das roupas e da pressa alheia, de ter aonde ir, com o que vestir, e para quem voltar. Meus pés tocavam o solo, subiam e desciam acompanhando as trilhas dos comerciais que davam lugar a outras trilhas nas várias tevês ao redor do saguão da rodoviária. As malas abarrotadas de sonhos inalcançáveis rodavam de lá para cá, puxadas por seus donos. Analogias pobres me vem à mente, como essa: malas como troncos, donos como negros, puxadas como trabalho, sonhos como chicotes.

Um dia Bernardi escreveu que tinha medo de ir para o Rio porque lá todos eram felizes, e, em sua solidão crônica ela não queria fingir um sorriso. Encantei-me com a sinceridade de São Paulo, onde a tristeza é real e a moda e os críticos preenchem o vácuo da felicidade. São Paulo não é tão sólida quanto parece.

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