sábado, 19 de setembro de 2009

Pessoas e sapatos...


Dois tenis em um canto de um quarto escuro ainda estavam acordados. Seu dono já dormia, e agora, o único chiado audível era dos sapatos tagarelas. Ambos do mesmo par, estavam sujos e surrados. Provavelmente eram do uso cotidiano do menino.
Eu sou uma meia, e estava jogada em cima da cama. Estava tentando dormir, no entanto, era impossivel não ouvir os dois sapatecos fofocando a noite toda.

- Calado, esquerdo. Você fala muito. Pensa que é superior só porque se encontra menos surrado e encardido do que eu! - chuta o tenis direito, cansado.
- Não mande eu me calar, direito! Isto está óbvio. Eu sou um calçado muito mais conservado que você. Fisicamente e psicologicamente, claro. Porque nem batendo bem da cabeça você está - chuta o esquerdo.
- Quem é você pra chamar os outros de maluco?! Não se deve julgar um livro pela capa. Assim como não se deve julgar um sapato pelo solado.
- Só fala isso porque está assim desse jeito. Tenho certeza que se estivesse em meu lugar, sendo um pé muito mais conservado, estaria me apoiando - desfarça.
- Isso é você que pensa. Sou muito orgulhoso pelo meu estado. Se você não sabe, ser o sapato mais surrado é significado de vitória para mim. Quer dizer que eu sou o amortecedor do pé de apoio. Eu sou a base. Eu sou o tenis mais prezado. Por isso sou o mais usado- desabafa o direito.
- Você está ficando maluco.
- Não, não estou. Os calçados mais usados, são aqueles que são mais estimados. São os mais confortáveis de se usar, e os que dão mais segurança ao usuário. - chuta o direito - Assim como as pessoas. Aquelas com quem construimos uma relação afetiva maior, onde haja um uso constante de confiança e a reciprocidade de amor, são as mais prezadas e que dão apoio. - concluiu.

Após a longa discussão, eu , a meia, me perguntava se um sapato podia durar pra sempre... Tinha certeza que não. E nem as pessoas. Mas diferente de tenis, as pessoas, com o tempo, não ficam mais surradas e arrebentam de felicidade por aí. Com o tempo, as pessoas somente se fortalecem, virando verdadeiras familias.

- Mas e as meias?- Me perguntei.

Sem perceber que os pés dos meninos estavam bem atrás de mim, eles falaram com sono, porém sorridentes:

- Assim como as pessoas, as meias aquecem. E isso já está de bom tamanho.

Depois disso, dormi bem, para poder exercer minha função com excelencia na manhã seguinte.


O figurante.

2 comentários:

  1. Hummmm...
    Interessante,meu amor!
    Eu fiquei um pouco perdida, mas no final deu pra entender tudo!!

    Eu sempre vou querer ser seu chinelo,sapato,tênis,sandália,... e principalmente sua meia =D !

    Te amooo!

    ResponderExcluir
  2. a conversa entre os tênis...de onde vem sua imaginação little?heheheheh;contos figuranteanos...bjaum!

    ResponderExcluir