quinta-feira, 4 de outubro de 2012

A Massa de Pizza.

Numa noite de primavera um grupo de pessoas seguia o caminho para casa dentro de um ônibus. Todos os bancos ocupados e poucos espaços livres no estreito corredor. Todos balançavam juntos, saltavam juntos, freavam juntos: como uma grande massa de pizza sendo preparada. Uma massa calada.

Ouve-se uma gritaria na frente do ônibus. Um homem reclama com o motorista. O condutor não havia parado no ponto, mas sim, muitos metros a frente, e o homem, já de idade, teve de correr atrás do ônibus, ofegante. Enquanto o passageiro revoltado dizia seus desabafos ao motorista, o silêncio do ônibus transformou-se em um grande cochichar, sútil, sem vozes altas. 

O homem não parava de esbravejar o quão revoltante era aquela situação. "Se não gosta de trabalhar, de pegar passageiro, mude de emprego!", dizia. 

O cochicho coletivo perdeu lugar para o silêncio em poucos minutos. A única voz restante era a do homem, que se sentia injustiçado e profundamente sozinho.

Aquele ruído contínuo de revolta gerou um incômodo e um novo cochichar surgiu. Olhares e caras feias eram trocadas no ambiente. Até que o ônibus parou e praticamente todos os passageiros indicaram, com os mais de 70 dedos, a porta traseira, de saída, para o homem. 

O homem desce do ônibus espantado. O ônibus segue seu caminho. Em silêncio.


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